Eu lembro bem da primeira vez que abri aquele ambiente amigável, com suas janelas, botões e a possibilidade de arrastar e soltar componentes.
Para quem estava acostumado com linhas de código secas o Visual Basic parecia coisa de outro mundo.
Era como se, de repente, programar tivesse se tornado acessível para todos.
Naquela época, bastavam alguns cliques, um MsgBox
aqui e um If...Then
ali para ver um programa funcionando na tela.
O Visual Basic não apenas me ensinou a programação visual, ele me deu a certeza de que o mundo da programação estava mudando.
Com ele criei sistemas de controle de estoque, sistemas para locadoras, cadastro de clientes, entre outros, era uma paixão genuína.
O primeiro contato verdadeiro com o poder de criar algo visual, arrastando e soltando componentes.
Eu já criava algo no Basic e Clipper, mas para muitos de nós, foi o começo de tudo.
A Revolução da Interface Gráfica
Antes do Visual Basic, programar era uma tarefa bem mais complicada. Era encarar telas pretas, muitas linhas de código e a necessidade de compilar tudo para ver algo acontecer.
A chegada do Visual Basic trouxe uma mudança radical: finalmente podíamos ver, em tempo real, como nossas aplicações iam ficando.
Bastava arrastar um botão para a tela, ajustar o tamanho, clicar duas vezes e escrever o que ele faria.
Simples assim. A interface gráfica deixou de ser um sonho distante e passou a estar ao alcance de qualquer um com curiosidade e um pouco de tempo livre.
Isso foi um divisor de águas para uma geração inteira. De estudantes a profissionais da área, muitos viram no Visual Basic uma maneira de tirar ideias do papel com rapidez.
Era quase mágico poder montar uma tela, colocar um código básico e, em poucos minutos, ter algo rodando.
Ele se tornou popular não só em cursos técnicos e escolas, mas também em empresas pequenas que queriam automatizar seus processos sem gastar muito dinheiro.
O VB foi, por muito tempo, a escolha para a programação visual.
Por Trás do Visual: A Lógica Ainda Era Essencial
Apesar de toda a facilidade de arrastar componentes e criar interfaces em minutos, o Visual Basic nunca foi apenas "clicar e pronto".
Por trás daquele ambiente amigável, havia a lógica e estrutura do código que precisava ser aprendida.
Era preciso entender variáveis, estruturas condicionais, laços de repetição e eventos, e para quem estava começando na programação parecia complicado.
O que parecia simples à primeira vista logo mostrava sua profundidade conforme os projetos iam ficando mais complexos.
E foi aí que muitos começaram realmente a aprender o que era programação de computadores.
Visual Basic era um convite à curiosidade. Quando algo não funcionava, e isso acontecia com frequência, a solução era uma só, raciocínio lógico.
Tínhamos que pensar, testar, errar, tentar de novo. E nesse processo, começávamos a entender conceitos fundamentais que iriam nos acompanhar por toda a carreira, mesmo em outras linguagens.
O VB nos deu o empurrão inicial, mas também nos ensinou que, no fim das contas, programação é mais sobre pensar do que apenas arrastar elementos em uma tela.
A Magia dos Dados: Visual Basic e os Bancos de Dados
Um dos momentos mais marcantes para quem evoluía no Visual Basic era o primeiro contato com bancos de dados.Até então, os programadores estavam acostumados com bancos de dados em .dbf, mas de repente, os programas deixavam de ser apenas "calculadoras com botões" e passavam a guardar informações, manipular cadastros, buscar registros de forma mais segura.
Era como se entrássemos em outro nível da programação. Usando ferramentas como o Data Control ou conectando com o famoso Microsoft Access via DAO ou ADO, o VB mostrava que dava, sim, para criar sistemas sérios — daqueles com login, relatórios e tudo mais.
Nem Tudo Era Perfeito: Os Desafios de Programar em VB
Por mais apaixonante que fosse, o Visual Basic também tinha suas dores de cabeça e quem viveu, sabe bem.
Travamentos inexplicáveis, mensagens de erro e o famoso "runtime error" que aparecia bem na hora da apresentação para o cliente.
Além disso, organizar projetos maiores podia virar um caos, já que a estrutura dos arquivos e a forma como os formulários e módulos se conectavam nem sempre era simples.
Conforme o sistema crescia, crescia também a bagunça.
Outro desafio comum era a dependência de bibliotecas e componentes do Windows, que muitas vezes não estavam instalados corretamente nas máquinas dos usuários.
Quantas vezes não passamos horas configurando o instalador, tentando garantir que os controles ActiveX fossem incluídos?
No nosso computador ? Funcionava perfeitamente, mas não rodava no do cliente. Era frustrante, mas era isso que fazia com que os fortes continuassem.
Aprendemos a lidar com problemas reais, a improvisar, e principalmente, a entender que programar é, principalmente, aprender a resolver problemas.
Visual Basic: Um Nome que Ainda Traz um Carinho
É engraçado como algumas palavras têm o poder de nos transportar no tempo. "Visual Basic" é uma delas.
Basta ouvi-la e uma enxurrada de memórias vem à cabeça. As tardes programando depois da escola, os amigos cheios de dicas e códigos prontos, os CDs com instaladores.
Era uma época em que aprender a programar parecia uma aventura, e cada novo recurso descoberto era motivo de comemoração.
O VB não era só uma linguagem, era uma companhia constante para quem estava começando.
Mesmo hoje, com todas as ferramentas modernas à disposição, é difícil esquecer o sentimento de vitória ao ver um programa funcionando pela primeira vez.
O Visual Basic marcou uma geração, não apenas pelo que permitia fazer, mas pela forma como nos fazia sentir capazes.
Ele nos mostrou que a programação podia ser para todos, e que não era preciso saber tudo para começar a criar.
E talvez seja por isso que, mesmo tantos anos depois, o nome "Visual Basic" ainda arranca um sorriso sincero de quem viveu essa fase mágica.
Se você também viveu essa época ou está apenas descobrindo como tudo começou, vale a pena dar uma olhada em outra grande linguagem da história da programação: a poderosa e influente linguagem C.
Clique aqui para ler o artigo e relembrar (ou conhecer) os dias em que o ponteiro era rei e cada byte contava.